Quando há a formação de novas ‘panelas’ em times da NBA por conta de trocas bombásticas, como o Golden State Warriors de 2016 a 2019 e até o Brooklyn Nets pós-troca de James Harden, muitos fãs da maior liga de basquete mundial, sobretudo do Los Angeles Lakers, usam a justificativa de que essa formação é injusta porque “a NBA vetou a ida de Chris Paul aos Lakers”. Mas de onde isso veio?
Assim, vou aproveitar a oportunidade para contar toda essa confusão, que impactou o futuro de várias franquias ao longo da última década. Vem comigo!
Contexto
Na temporada 2010/11, George Shinn, então dono do New Orleans Hornets — que só viraria New Orleans Pelicans em 2013 —, resolveu vender sua franquia, prática comum ao longo da história. No entanto, houve uma surpresa quanto a sua nova dona: era a própria NBA, com a alegação de temer que o novo dono saísse de New Orleans a fim de buscar outra cidade mais atrativa, algo que a liga não queria.
Assim, David Stern, comissário da NBA à época, tinha o direito de fazer as mesmas coisas que qualquer outro dono de uma franquia da liga poderia fazer, incluindo o envolvimento em futuras negociações dos Hornets. Guarde essa informação para o decorrer do texto.

A troca bombástica
Aproveitando o retorno da liberação de negociações após o término da greve dos proprietários da liga em 2011, os Lakers chocaram o universo do basquete ao anunciarem que estava adquirindo Chris Paul, uma super estrela da liga, em uma troca tripla que também envolvia o Houston Rockets.
Nessa troca, Houston ganhava o pivô Pau Gasol e New Orleans ganhava Kevin Martin, Luis Scola, Goran Dragic, Lamar Odom e uma escolha de primeiro round para um Draft futuro. A troca parecia interessante para os Rockets, que teriam uma boa reposição para o recém-aposentado Yao Ming, e muito boa para os Hornets, que ganhariam um bom pacote, capaz de manter a equipe jogando em alto nível.
Apesar disso, o LA Lakers parecia ser o grande favorecido da troca. Apesar de ceder Odom e Gasol no negócio, o que era considerado muita coisa pelo CP3, que tinha apenas mais um ano de contrato, a negociação também abria margem para a vinda do pivô Dwight Howard para LA, que na época era o melhor jogador da posição na liga.

O ‘veto’
A formação de mais um Big Three na liga passou a preocupar os adversários, pois o trio formado por Kobe Bryant, Chris Paul e Dwight Howard era ainda mais forte que LeBron James, Dwayne Wade e Chris Bosh, do Miami Heat, e Paul Pierce, Kevin Garnett e Ray Allen, do Boston Celtics, o que sugeria a tendência de um desequilíbrio eminente da NBA, tal qual aconteceria anos depois com a ida de Kevin Durant ao Golden State Warriors.
Visto isso, donos de franquias como Mark Cuban, do Dallas Mavericks, e Dan Gilbert, do Cleveland Cavaliers, passaram a pressionar David Stern a fim de que ele, como dono dos Hornets, vetasse a negociação por conta da violência ao mercado que isso geraria.
Jamais saberemos se Stern, falecido em 2020, levou o apelo dos donos em consideração, mas fato é que ele vetou a negociação e, dias depois, trocou o mesmo Chris Paul para o Los Angeles Clippers, em troca de Eric Gordon, Chris Kaman, Al-Farouq Aminu e uma pick de primeiro round que seria usada para recrutar Austin Rivers.

O negócio foi extremamente contestado à época, já que a primeira troca seria muito mais benéfica a New Orleans a curto prazo. Como resultado da troca, o New Orleans Hornets foi o pior time da Conferência Oeste, com 21 vitórias e 45 derrotas, e o Los Angeles Lakers perdeu Odom e Gasol, sem clima pra ficar em LA após toda essa situação, por trocas de menor valor no futuro. Muito por isso, os Lakers não conseguiram mais serem competitivos com o Kobe.
Conclusão
Mesmo com tudo que falei anteriormente, a jogada de David Stern para o futuro da franquia com toda essa bagunça não foi ruim, e eu explico o porquê. O time a curto prazo se enfraqueceu vertiginosamente, a ponto de ir à loteria do Draft, conseguir a pick 1 e recrutar Anthony Davis ao final daquela temporada.
AD é o maior jogador que já jogou por New Orleans desde que CP3 foi para os Clippers. No entanto, por outras razões, os novos administradores dos Hornets/Pelicans não foram capazes de montar equipes competitivas ao redor da superestrela, o que acabou resultando na troca de Davis ao próprio LA Lakers, em 2019.
Contudo, devemos pensar que mesmo podendo ter um bom time caso a troca com os Lakers fosse concretizada, os Hornets ainda assim não teriam condições técnicas de brigar com os grandes times do Oeste à época, como o San Antonio Spurs, de Tim Duncan, o Oklahoma City Thunder, do jovem Kevin Durant, e o próprio LA Lakers, que formaria um belo Big Three.
Assim, independente de haver interferência dos donos ou não — David Stern sempre negou que essa interferência tenha de fato ocorrido, até porque os donos estão sempre cobrando coisas dos comissários e nem por isso todas elas são atendidas —, o dono da franquia naquele momento resolveu arriscar e colheu bons frutos com os oito anos de Anthony Davis.

Eu, que escrevo esse texto, acredito mais nessa última hipótese. Stern foi uma das pessoas que mais contribuíram para que a NBA chegasse no patamar que está hoje, e depois de décadas à frente da comissão da liga, não acho que ele colocaria toda sua reputação a perder para deixar de ver um grande time em quadra, que sempre vai atrair muito mais visibilidade que os times mais modestos.
Imagine a audiência que a NBA não receberia ao ter anos de Kobe x LeBron nas Finais. Os dois melhores jogadores da liga, com seus trios impiedosos, disputando uma série de 7 partidas para coroar o melhor deles no final. Eu acredito que um homem tão experiente jamais abriria mão de um evento tão grande e lucrativo só para agradar interesse de A ou B.
Depois de tudo posto à mesa, qual conclusão você tirou desse caso? Acha que, como eu, a decisão foi por ganho esportivo ou acha que os donos interferiram diretamente no negócio? Deixe nos comentários abaixo!
Um comentário em “O ‘veto’ de Chris Paul”